Partiu Cleonice Berardinelli, a "nossa" Cleonice, Dona Cleo. De todas as manifestações de apreço e respeito com que o mundo académico a distinguia, o carinho, aqui expresso na palavra "nossa", talvez fosse o que mais lhe agradava.
Era, com toda a justiça, Presidente Honorária da nossa Associação Internacional de Lusitanistas. Era — e continua a ser — a mais prestigiada das estudiosas das literaturas e culturas de língua portuguesa. Figura de referência em todo o mundo académico, onde quer que se pensasse a língua portuguesa e as literaturas e culturas que nela se exprimem, a sua partida deixa-nos mais pobres.
Neste momento em que nos deixa, depois de tantas décadas dedicadas à nobre missão de ensinar, vergamo-nos respeitosamente diante da sua memória em sentida homenagem e expressamos o nosso pesar à sua família e às suas discípulas e seus discípulos (essa outra família) e dizemos-lhe, em nome de todas e todos nós: obrigado, Cleonice Berardinelli, obrigado, professora, obrigado, Dona Cleo, por tudo quanto nos legou.
Carlos Ascenso André
(Presidente da Associação Internacional de Lusitanistas)
A Veredas: Revista da Associação Internacional de Lusitanistas está com chamada aberta para o dossiê número 39 (jan./jun. 2023), com o tema "A Literatura e seus Afetos".
Este dossiê é organizado por: Frederico Garcia Fernandes (UEL) e Vera Lúcia Cardoso Medeiros (UNIPAMPA).
O prazo final para o envio de artigos para este dossiê é 31 de maio de 2023.
Confira a chamada completa no site da revista Veredas, aqui.
Veredas n. 38
Dossiê temático: Prisões e confinamentos: escritas do cárcere
Organizadores:
Sabrina Sedlmayer
Alexandre Amaro
O número 38 da Revista Veredas apresenta estudos que se dedicam às reflexões acerca das condições de produção literária em ambientes cuja liberdade de deslocamento humano foram interditadas. Essa edição investiga a escrita como um dispositivo capaz de não somente testemunhar, denunciar, informar a violência e a perda de direitos humanos, mas também de oferecer-se como instrumento da criação literária. Uma questão que se
coloca é saber como a língua portuguesa, em condições hostis de encarceramento, se moveu dentro de si mesma, trabalhando os limites da linguagem. [da Apresentação]
Veredas n. 37
Dossiê temático: Corporalidades e violência na literatura recente produzida por mulheres no mundo lusófono
Organizadoras:
Lúcia Osana Zolin
Alexandra Santos Pinheiro
A proposta deste dossiê vem marcada por um tema que sempre se fez presente na história das mulheres: o da violência. O Brasil se situa entre os países considerados violentos para mulheres e, contextualizada em um cotidiano que automatiza a violência, a literatura brasileira contribui para com a visibilidade desses corpos aviltados que se multiplicam nos noticiários. Essa realidade, de certa maneira, não é muito diferente nos demais países lusófonos. Na seara sociocultural, são múltiplos os discursos que, de diferentes maneiras, naturalizam a violência sofrida pelas mulheres: os discursos políticos, religiosos, familiares e culturais repercutem a visão binária e hierarquizada dos sujeitos. Discursos que pré-determinam papéis, baseados na dicotomia masculino X feminino e suas reverberações patriarcais e, portanto, misóginas: dominação X submissão, força X fraqueza, voz X silêncio, entre outras afins.
A relação entre literatura, história e pensamento remonta às origens da cultura ocidental. Aristóteles, na Poética, afirma que o poeta e o historiador não diferem por um escrever em verso e o outro em prosa, mas pelo fato do primeiro narrar o que poderia acontecer e o segundo o que aconteceu. Assim, para o filósofo do Liceu, a poesia é mais filosófica do que a história. Aquela procura o universal, esta, o particular. Essas afirmações foram contestadas ao longo do tempo e no decorrer de teorias e estéticas que questionaram os limites e as possibilidades quer da narração, quer do pensamento, quer da própria história. Como a narrativa lusófona enfrenta as questões levantadas por Georg Lukács, Walter Benjamin ou Adorno, se uma totalidade verossímil não é mais dada às formas?
O número 36 da revista Veredas convida os leitores a pensar como se entrelaçam literatura, pensamento e história nos confins do narrável, mediante uma série de textos que interrogam a própria possibilidade da literatura.
(Frederico Garcia Fernandes e Diego Giménez, da Apresentação)