Chamada para publicação ed. 43 (1-2025)
Dossiê: Passaram ainda além... dos estereótipos: questões de gênero na obra camoniana
Prazo para submissão: até 31 de Março de 2025
Organizadores:
Marcia Arruda Franco (Universidade de São Paulo)
Manuel Ferro (Universidade de Coimbra)
Filipa Araújo (Universidade de Coimbra)
Importa salientar que o “peito ilustre lusitano” cantado n’ Os Lusíadas inclui também o “peito feminil”, através da pintura de retratos femininos que desafiam os ditames normativos das convenções sociais e dão sinais de uma tentativa de empoderamento. Recordemos a intervenção política da “fermosíssima Maria”, a rejeição que a ninfa Tétis impõe ao gigante Adaastor, o poder da deusa Giganteia que difunde globalmente a gesta portuguesa, a superioridade intelectual da deusa Tétis, ou a repreensão da ninfa a Bóreas no episódio da Tempestade (Lus. V, 89, 4-8). Cumpre lembrar igualmente os jogos de sedução encenados na Ilha dos Amores, de modo a evitar o assédio e a violação, privilegiando uma perspetiva sobre a vivência amorosa que recorre à emulação de mitologemas, imagens e figuras antigas. Em que medida contribui este cenário para defender uma intervenção cívica no sentido de reconhecer os direitos sexuais da mulher no século XVI?
Procurando fomentar a discussão das questões de gênero na obra de Camões, de modo a resgatar o interesse deste valioso contributo para a história cultural do século XVI, este volume tem como objetivo aprofundar o estudo da mentalidade que embasou a fortuna crítica e/ou poética dessas temáticas, seja na atualidade, seja em outros períodos históricos, de acordo com os valores e desejos dominantes. Visa-se, assim, lançar nova luz sobre aspetos menos explorados, sugerindo-se, entre outros, as formas de representação de figuras femininas ligadas à vida e à obra do autor d’ Os Lusíadas; a imitação poética da pastorícia homoerótica renascentista na relação preceptor/pupilo e no ambiente da corte; a expressão da sexualidade e das conceções eróticas quinhentistas. Apela-se, em particular, à reflexão sobre as reinterpretações das mulheres camonianas marginalizadas (prostitutas, escravas, serranas...) nas literaturas e nas culturas de língua portuguesa, nomeadamente nos testemunhos da tradição oral.